quarta-feira, 18 de maio de 2016

Fwd: [Bioética e Fé Cristã] Jesus e os fariseus: uma análise de um sistema ético

Eduardo Ribeiro Mundim

Jesus e os fariseus têm um longo histórico de contendas. Certos trechos das Escrituras parecem transmitir, ao menos superficialmente, uma relação de quase-inimigos. É certo que disputas com eles serviram de pano de fundo, ou quadro, para diversos ensinos de Jesus. Igualmente correto é que entre os seus seguidores havia fariseus. Inquestionavelmente fariseus e escribas arquitetaram o falso julgamento, e a condenação, dEle à morte.

Como grupo dentro do judaísmo daquela época, sua origem pode remontar ao tempo de Esdras, e da construção do segundo templo. Eles parecem ter surgido como consequência do estupor provocado pelo exílio: como era possível para a raça dos filhos de Abraão, Isaac e Jacó amargarem o exílio? como era possível que das doze tribos, dez tenham desaparecido enquanto tais? A resposta, biblicamente enraizada, encontrada por eles, foi "não termos cumprido a lei" (Dt 28).

Impactos pela dura lição da realidade, diligentemente procuram um recurso para nunca mais caírem no mesmo erro. Cheios de desejo de fazerem a vontade de Deus, escrutinam a Lei e dela extraem regras para que jamais um judeu piedoso não tivesse referência sobre qual era a vontade expressa de Deus para uma determinada situação. Eles criam um sistema ético.

O evangelista Mateus, no capítulo 23, registra um dos embates mais duros entre Jesus e os fariseus. Duro por causa das palavras, explícitas: hipócritas não é um termo facilmente entendido como gentil ou caridoso. E Jesus o usa 7 a 8 vezes. Contudo, é importante atentar para os versos finais do capitulo (37-39): "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne seus pintinhos debaixo de suas asas... e tu não quiseste!" Parece a mim que neste momento Ele chora, porque as palavras ditas são de amor e carinho, de fragilidade e de cuidado para com o indefeso... Longe de chicotear os fariseus com sua força moral e a dureza das palavras, na melhor da tradição bíblica (Pv 3.12), Jesus procura corri-los, e a nós.



Postado no Bioética e Fé Cristã em 5/18/2016

A microcefalia e a força da vida na fraqueza

O debate sobre a microcefalia está na ordem do dia. O tema estará em breve no Supremo Tribunal Federal, com uma petição da legalização de aborto liderada pela professora de Direito da Universidade de Brasília, Débora Diniz. Débora alcançou destaque mundial ao publicar um texto no jornal "The New York Times", argumentando que esta é a oportunidade do governo brasileiro "dar às mulheres o controle definitivo sobre sua vida reprodutiva" e o "poder de gerenciar sua gravidez". Seu argumento ressalta que, como muitas mães contaminadas pelo Zika Vírus estão em regiões pobres e sofrem com o descaso do governo, é responsabilidade do Estado minorar o sofrimento permitindo o aborto. Em muitos casos, diante da fragilidade da vulnerabilidade familiar e social, o aborto dos microencefálicos aparenta ser a única solução possível. Esta argumentação, entretanto, não se aproxima das questões fundamentais envolvendo a microcefalia e outras deficiências mentais: no texto referido, o termo microcefalia não é sequer mencionado. Constitui-se uma solução técnica e pragmática, uma redução que despreza a totalidade dos fatores envolvidos. Ela ignora a possibilidade de se emergir uma resposta madura dos deficientes e seus familiares à fragilidade da vida.


O presente artigo não nasce de uma visão idealista alheia à experiência das pessoas. Como psicólogos, lidamos diariamente com o sofrimento humano e as realidades da vulnerabilidade social e a deficiência. Identificamo-nos com pessoas que não conseguem descobrir um caminho em meio à dor, sentem-se desesperadas e se angustiam pela falta de suporte. Entretanto, temos visto deficientes, mães e familiares aprendendo a reconhecer a força da vida em meio à fraqueza, descobrindo um horizonte grande e cheio de possibilidades, mesmo em meio aos limites e frustrações. Por isto cremos que o debate não deve focar-se no aborto: é preciso vislumbrar possibilidades de uma resposta que não nega a deficiência, mas que a inclui, mesmo sendo um posicionamento na fragilidade. Neste artigo, propomos que a concepção cristã da "força na fraqueza" gera um novo olhar à vulnerabilidade e deficiência; esta visão permite uma resposta a partir da fragilidade (e não contra ela) nos abrindo para a relação com os outros e com Deus.


Apesar de reconhecermos a necessidade de uma abordagem multidisciplinar pela complexidade dos desafios éticos contemporâneos, nosso enfoque é uma contribuição específica a um debate amplo: uma resposta cristã nutrida pelas experiências de acolhimento do sofrimento humano no trabalho psicológico.




O presente escondido da deficiência mental


Vivemos em momento histórico que despreza o fraco e a deficiência mental. Através dos avanços tecnológicos do século 21, a neurociência tem pesquisado o aumento da capacidade do cérebro. Diante dos projetos de "melhora humana", o presente século tem aversão à deficiência cognitiva. Sem nos darmos conta, criamos nossos filhos para serem bons competidores no mercado de trabalho, e não os queremos limitados por deficiências de inteligência. A consequência é uma sociedade que exclui, inferioriza e nega o valor e o potencial do deficiente.



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Postado no Bioética e Fé Cristã em 5/18/2016

segunda-feira, 16 de maio de 2016

O caráter ético do conhecimento científico


URBANO ZILLES



Para concluir, as mudanças rápidas e profundas que ocorrem em vista do desenvolvimento técnico-científico exigem novas reflexões filosóficas para a adequação de códigos e normas de ética profissional. Surgem, a cada momento, novos problemas e novas perguntas que não se respondem satisfatoriamente com respostas velhas. Neste mundo novo da tecnociência, muitas teorias, também filosóficas, se esgotam, e a ciência, por si, não produz normas éticas. Mas sem elas o mundo se tornará desumano. A própria política, se não quiser globalizar apenas a miséria, necessita de profundas mudanças. 


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Postado no Bioética e Fé Cristã em 5/16/2016

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Embriões humanos em laboratório atingem o limite ético

Cientistas anunciaram um avanço no desenvolvimento de embriões humanos em laboratório que colocou a comunidade acadêmica com as orelhas em pé.
Neste caso, avanço tem duplo sentido, porque houve de fato um desenvolvimento científico, mas também o trabalho "avança" até o limite do que é considerado legal em termos de manipulação de embriões humanos em laboratório.

E, como era de se esperar, a parcela da comunidade científica que lida diretamente na área já está pedindo que esse limite seja ampliado, o que levanta sérias questões no campo da bioética.

De embrião a indivíduo
Uma equipe do Reino Unido e dos Estados Unidos conseguiu pela primeira vez fazer com que um embrião humano se desenvolvesse em laboratório, fora do útero de uma mãe, por 13 dias - a equipe garante que o experimento foi interrompido antes de ser atingido o limite legal de 14 dias.

O limite de 14 dias foi estabelecido porque, a partir desse ponto, o embrião torna-se um "indivíduo", já que não é mais possível que ele forme um gêmeo.
O tempo alcançado é praticamente o dobro do que havia sido conseguido antes. Técnicas de reprodução assistida exigem o "cultivo" do embrião, mas ele é mantido apenas até a implantação no útero.

A equipe afirma ter encontrado uma forma de imitar quimicamente o ambiente do útero para que o embrião continuasse a se desenvolver. Não se sabe até que ponto o desenvolvimento normal prosseguiria, já que ele foi destruído.

Além disso, à medida que se desenvolve, o embrião passa a exigir um conjunto de condições e nutrientes complexo demais e ainda desconhecido, o que leva a crer que, se mantido por mais tempo, ele não prosseguirá a rota normal de desenvolvimento, apresentará deformidades e morrerá.

Discussões
Os cientistas argumentam que experimentos desse tipo estão mostrando novos detalhes do desenvolvimento humano, quando as células começam a se organizar para formar um corpo e que isto poderia eventualmente ajudar na melhoria das terapias de reprodução assistida.
Outros especialistas questionam a validade desses experimentos em seres humanos, já que experimentos desse tipo em animais são feitos há décadas.

fonte: http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=embrioes-humanos-laboratorio-atingem-limite-etico&id=11371

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Postado no Bioética e Fé Cristã em 5/12/2016

A história de fé de Rosalind Picard

Posted: 11 May 2016 10:00 AM PDT

Por Áquila Mazzinghy

Rosalind Picard é uma das cientistas entrevistadas pelo Projeto “O Teste da Fé”, que tem como objetivo demonstrar que é possível aliar ciência a uma fé cristã robusta. Professora de Arte e Ciências no MIT (Massachusetts Institute of Technology), diretora e também fundadora do Affective Computing Research Group do MIT Media Lab, co-diretora do grupo Things That Think Consortium, e cientista-chefe e cofundadora da Affectiva e da Empatica, Rosalind já recebeu diversos prêmios internacionais, participa de vários conselhos editoriais de revistas respeitadas internacionalmente, escreveu livros e mais de duzentos artigos científicos e desenvolve algoritmos e sensores para auxiliar pessoas que sofrem com autismo, epilepsia e distúrbios do sistema nervoso em geral.

Quando Rosalind Picard era mais jovem, ela assumiu que a religião era para as pessoas emocional ou intelectualmente “atrofiadas”: “Eu era ateia convicta. Eu achava que aqueles que acreditavam em um Deus tinham jogado sua razão ao vento.” “Eu poderia olhar ao redor e ver todos os tipos de pessoas sem instrução que eram crentes, e eu pensava que os dois andavam de mãos dadas. Eu acreditava que a religião era uma criação do homem, inventada por pessoas que não eram fortes o suficiente para lidar com a morte. Eu assumi que a fé não era intelectual ou com base em provas”.

Desafiada a ler a Bíblia por amigos próximos, Rosalind concordou. “Eu achava que a Bíblia era errada sem ao menos ter lido uma única vez, e eu confiava na minha boa educação intelectual para isso, mas eu realmente achei a leitura profundamente sábia. Então, eu decidi ler toda a Bíblia. A experiência de ler a Bíblia por mim mesma desafiou todos os meus pressupostos anteriores.” Rosalind conta, então, que gradualmente tornou-se preparada para admitir a sua fé.

Perguntada sobre como ela concilia fé e ciência em seu trabalho ela afirmou: “Eu não tenho problemas em conciliar minha fé cristã e minha carreira. Ciência e fé são mais do que compatíveis – elas são complementares, como as duas asas para nos erguer do chão e nos ajudar a ver mais do que podemos daqui de onde estamos.”

Indagada sobre quais são os motivos mais fortes para rejeitar a fé cristã, Rosalind Picard não apontou questões profundas da ciência. Segundo ela, existem muitas objeções intelectuais para a fé, mas podem ser tratadas. O maior problema é, talvez, a os impactos que o cristianismo traz à vida de uma pessoa: “muitos não querem mudar o modo como vivem, ou não querem viver da maneira como nosso mestre, Cristo, viveu”. Também segundo ela, muitos não cristãos se sentem desencorajados ao ver cristãos que vivem vidas aparentemente sem qualquer transformação.

fonte original: http://www.cristaosnaciencia.org.br/

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Obesidade e homossexualidade

Eduardo Ribeiro Mundim

A Ultimato decidiu publicar, na seção das cartas, no primeiro número de 2012, o comentário que fiz daquela escrita pelo irmão Luciano, originalmente postado no sítio da revista e no CrerPensar. Acrescentou suas próprias considerações, úteis ao debate. A decisão de registrar na versão impressa o postado na virtual mostra, mais uma vez, a postura de coragem da equipe editorial. Mais fácil teria sido deixar passar e não colocar "mais lenha na fogueira". As ponderações que fez contribuem e convidam ao aprofundamento da reflexão.

É verdade que Jesus chama ao arrependimento e à mudança de vida; é verdade que Ele chama por demonstrações objetivas deste arrependimento e estabelece critérios claros do que seja a novidade de vida que espera daqueles que O confessam Senhor e Salvador.

É verdade que pela Sua morte e ressurreição o pecado não mais dita o destino do Seu povo. É verdade que nesta vida continuaremos a pecar e a confessar - se dissermos não estarmos sujeitos a isto, "fazemo-Lo mentiroso e o Seu amor não permanece em nós".

É certo que os Seus discípulos devem buscar conscientemente a Sua semelhança, o que é chamado por alguns de santificação. Buscá-la com afinco. Não é prudente contar este processo como possível de ser alcançado nesta vida com plenitude, pelo exposto anteriormente.

Segundo Paulo aqueles que cometem adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices e glutonarias não herdarão o Reino de Deus (habitualmente interpretado como "não serão salvos"). A coerência pede que o apóstolo seja entendido dizendo que estão fora do Reino aqueles que recusam a alternativa de abandonarem um caminho de rebelião aberta contra Deus Pai, manifestada pelas atitudes permanentes, talvez definidoras do caráter da pessoas, exemplificadas de; forma não exaustiva por essa lista. Ela é encerrada pela expressão "e coisas semelhantes a estas".

Glutonarias é, no grego, kômoi. Este termo aparece apenas 3 vezes no Novo Testamento(1) e não é estudado em obras de referência(2). Também é traduzido por “orgias”. Segundo o Houaiss, orgia era uma festividade em honra ao deus Baco, e passou a ter o significado de festa caracterizada pela ausência de limites, pelo excesso, seja no beber, no comer ou na atividade sexual. Glutonaria é o ato de comer em excesso. A qual dos dois significados o apóstolo se referia?

Potencialmente ambos estariam no contexto. Orgia abrangeria pelo menos os 5 primeiros frutos da carne citados e o último; glutonaria seria o termo esperado após bebedices, e estaria também incluído em orgia. O comentário de Calvino parece favorecer glutonaria(3).

Todos os excessos resumidos em orgia são cometidos na esfera privada e, na dependência da circunspecção dos envolvidos, permanecem ocultos – à exceção provável de bebedices (se pensarmos no comportamento do alcoolista como exemplo) e da glutonaria, evidenciado pelo excesso de peso, caso seja um comportamento diário.

Não é possível a obesidade na ausência do consumo excessivo de nutrientes.

Estariam os obesos incluídos na relação dos frutos da carne? Se a obesidade somente pode ser consequente ao excesso de nutrientes, por que herdariam eles o Reino de Deus?

Enquanto escrevo, não consigo evitar a sensação de estar sendo ridículo. Contudo, racionalmente falando, a questão permanece, seja risível ou não: diversos comportamentos são evidências de um ser não transformado pela graça divina, em um espectro que vai da condenação social unânime (homicídios) ao risível (obesidade), passando pelo socialmente tolerável dentro de limites elásticos (inveja e inimizades).

É premissa cristã, e fortemente evangélica, a inexistência de pecado que não separe o ser humano de Deus – todo e qualquer pecado, tenha o impacto social ou particular que for, faz separação intransponível entre ambos. A única possibilidade de ponte é a cruz de Cristo.

Homossexualidade e obesidade parecem, portanto, estarem no mesmo barco: não entrarão no Reino de Deus.

É isto mesmo?
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(1) Concordância Fiel do Novo Testamento, vol I, pag 2968, 1a ed
(2) O Novo Dicionário da Bíblia 3a ed, Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã 1a ed, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento 1a ed
(3) conferir em http://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom41.iii.vii.iv.html

publicado originalmente em 11/01/12, no crerpensar.blogspot.com

[Bioética e Fé Cristã] Biotecnologia, ética e controle social

Volnei Garrafa

Meu objetivo neste breve artigo é analisar, a partir de enfoque bioético, o conflito gerado pela proposta de introdução de alimentos transgênicos no Brasil. Se, por um lado, o país não pode fechar-se a novas tecnologias ditas "limpas" que surgem neste final de século, por outro, é enorme a responsabilidade dos cientistas que trabalham com o assunto e dos políticos que têm a difícil tarefa de dar o encaminhamento concreto e adequado a este assunto. A população brasileira, por sua vez, sendo o verdadeiro sujeito de todo este processo, deverá estar suficientemente informada, segura e consciente sobre o melhor caminho a ser tomado. A participação e o controle social, no caso dos transgênicos, tornam-se a grande referência cidadã para a definição dos rumos futuros.




Postado no Bioética e Fé Cristã em 5/11/2016

segunda-feira, 9 de maio de 2016

[Bioética e Fé Cristã] Uma Visão Feminista Sobre os Megaprojetos da Genética Humana (PGH e PDGH)

Fátima Oliveira


O Projeto Genoma Humano (PGH) e o Projeto da Diversidade do Genoma Humano (PDGH) são áreas da big science que têm causado preocupações científicas, políticas e éticas. Neste ensaio abordarei o contexto histórico do estabelecimento desse campo de pesquisas; revisitarei o mito da neutralidade da ciência e de cientistas; velhos e novos estereótipos constitutivos do sexismo e da misoginia na ciência: mulheres cobaias e a invisibilidade das mulheres cientistas. Pontuarei alguns dos novos dilemas colocados pelos megaprojetos da genética humana em curso, sobretudo os referentes à invasão da privacidade, à procriação, aos riscos ecológicos e ao patenteamento de seres vivos e suas interfaces com a opressão de gênero e a racial étnica. 



Postado no Bioética e Fé Cristã em 5/09/2016